sábado, 12 de abril de 2014
CFSD 2001 3º BPM (Arquivo Pessoal), o que está marcado é o Idelfonso 


Na última quinta-feira (12/04), perdemos um amigo de longas datas o Soldado Idelfonso. A notícia nos foi repassada por um parente nosso, no momento estava no serviço, quando fui informado do ocorrido. Então não quis acreditar que tinha perdido mais um irmão de farda e um amigo de verdade. Todavia, infelizmente a notícia era verdadeira e quando vi as imagens pela internet do amigo tombado deixou-me consternado e com um grande aperto no coração, pois sabíamos que o irmão foi-se embora para sempre.

Aqui gostaríamos de nos reportar sobre a vida deste amigo, sabemos que esse crime tem uma relação com outro no qual não iremos nos ater nesse momento e infelizmente nesse desfecho trágico duas vidas foram ceifadas, mais não entraremos nessa questão, por que sabemos que o juízo chegou para ele de forma trágica.  O caso está nas mãos da polícia e da justiça para responsabilizar o homicida no qual interrompeu a vida do nosso irmão.
Sd Idelfonso
Idelfonso, o conhecemos no CFSD (Curso de Formação de Soldado) 2001 em Imperatriz no 3º BPM (Batalhão de Polícia Militar). A turma de 2001 foi bem eclética na formação, pois nesta tinha vários companheiros militares advindos de outras forças. Tinha ex - militares das Polícias do Pará (Sd Ribeiro, já falecido), Pernambuco (Sd Alexandro), São Paulo (Sd Charles), Tocantins(eu e sd Mesquita que fomos também contemporâneo da mesma turma do CFAP em 1998 em Palmas), militares do exército (50º BIS) em Imperatriz, Sgt Nogueira(Idelfonso), Cb Cleudes Felix, Sd,s Reginaldo, Wilke e ainda tinha alguns reservistas, o saudoso Sd,s R.Lima (morto em combate), Lucas e Vieira(Tenente Temporário). 

No grupo do 50º BIS (Batalhão de Infantaria e Selva) estava Idelfonso que era Sargento temporário do Exército brasileiro (EB), o seu nome de guerra era Nogueira. Essa turma do EB, vinha totalmente preparada nos macetes da caserna e principalmente no preparo físico, quem serve o Batalhão de Selva sabe que por lá o condicionamento físico é bastante exercitado. 

Ele vinha com todo gás, um dos meus irmãos (Edmilson) havia servido na época dele no EB. Ele sempre dizia que o Sgt Nogueira era caxias e recruta ele não perdoava, botava para ralar e sugava até a alma. 

Geralmente os sargentos temporários no 50 BIS, tomam de conta desses conscritos e recrutas recém chegados ao batalhão. 

Inclusive um dos alunos da turma do EB, foi seu recruta no tempo de exército, não me recordo quem teria sido, acredito que foi o Sd Lucas. Dizia-se que ele o fez comer uma cabeça de passarinho crua. Isso se espalhou rapidamente no nosso meio e foi bastante engraçado, haja vista que o mundo da muitas voltas e os dois se encontrava no mesmo ambiente comungando da mesma situação. Só que Lucas era mais antigo, mais os fatos ficaram tão somente na brincadeira. 

Idelfonso tinha uma estatura pequena, falava meio com os dentes cerrados, inteligente, crítico e com uma boa visão e perspectiva de futuro. No seu interior era uma grande pessoa. Os tempos de EB ficaram incrustados na sua conduta, moral e comportamento. Ele tinha uma vida exemplar e foi um bom policial militar, pois trazia os ensinamentos da caserna advinda do Exército.

Lembro-me bem, assim que se iniciou o CFSD, a sua fama espalhou-se no alunado e também no comando do batalhão que na época o comandante era o Cel. Melo, e o Sub-Comandante o capitão Pereira(Hoje Tenente Coronel comandante do 9º BPM em São Luís). 

Espalhou-se como pólvora a notícia que Idelfonso havia dito entre militares antigos, algo como o curso estivesse fraco ou coisa semelhante. Lembro-me bem, que assim que chegou ao conhecimento do Capitão Pereira, a coisa fedeu, de imediato o oficial chamou os ex-militares do exercito e alunos da PM em sua sala e deu aquela velha e inesquecível pressão. Resultado, todos foram penalizados. Em pleno pátio do Batalhão fomos pagar o velho e bom rala, os termos pagar e rala designam na caserna militar algo parecido com uma prenda, só que de maneira mais rigorosa. Todos os alunos pagaram em posição de flexão a “garota nacional”, uma espécie de flexão de braços, porém com os cotovelos no chão e as mãos no queixo. Eu como já maceteado de um outro curso na PM do Tocantins, fiz o exercício nas manhas sem colocar direito os cotovelos no chão. Curso militar qualquer que seja, você tem que ser safo e esperto para não ralar ou bisonhar, caso contrário os “voadores” vão sofrer como sovaco de aleijado. 

Bem, voltando a situação da inesquecível “garota nacional”, alguns alunos paisanos de natureza não aguentaram a pressão e foram reclamar para o comandante do Batalhão, que de imediato afastou o oficial de qualquer instrução com os alunos. Essas coisas de curso ficam marcadas para sempre em nossas mentes e são boas lembranças. 

Idelfonso, no curso sempre foi dedicado, ele sentava-se na frente típico de alunos estudiosos. Ele era muito dedicado nos estudos e não foi atoa que ele ficou entre os primeiros lugares do CFSD 2001.

Em uma das aulas de instrução, na disciplina Polícia Comunitária ministrada pelo Cel. Melo, não sei como, mais surgiu um apelido para o Idelfonso. O Sd Almeida muita brincalhão, o chamou de “Nós”, fazendo uma alusão a uma aula do cel. Melo, salvo não estou engando foi em um das aulas que o Idelfonso ficou repetindo algumas palavras do comandante e entre elas seria o “nós”, e por isso ficamos o chamando de “Nós”. Talvez não tenha muito sentido, mais ficou assim conhecido pelo menos por mim e pelo Almeida. 

Ele foi um grande amigo, tivemos por diversas vezes conversando enquanto servíamos ainda em Imperatriz. Não me recordo se alguma vez trabalhamos juntos, creio que não. Sempre fui policial mais de posto fixo, a operacionalidade quem me conhece nunca foi meu forte. Já ele, sempre foi operacional e bom de serviço, as  vezes elétrico e afoito de mais. 

Na vida militar ele foi alvejado nas costelas em operação policial, no qual resultou um afastamento total do serviço, chegando quase a se reformar. Mais retornou novamente para o serviço, até onde sei,  ele já não era mais o mesmo,  devidos aos problemas de saúde.

Na sua vida militar tinha um grande sonho e vontade de ser oficial da PM-MA, por diversas vezes ele tentou fazer o CFO(Curso de Formação de Oficiais), porém nunca logrou êxito, talvez faltou um pouco mais de dedicação ou perspicácia. A última conversa que tivemos com relação ao CFO, falou-me que tinha desistido, por que no último que fez, ficou frustrado com o resultado. No ano posterior resolveu mudar o foco, e fez o vestibular para geografia na UEMA(Universidade Estadual do Maranhão) em Imperatriz e dessa vez foi aprovado.

Como aluno universitário em algumas conversas com que tivemos pude perceber que sua visão realmente havia mudado, por conta dos conhecimentos teóricos da academia.

No ano de 2008, quando havia sido transferido para São Luís, perdi o contato com ele, porém as vezes que nos encontrávamos era esporadicamente no 3º BPM. Em um desses encontros foi no ano de 2012, nas eleições municipais. Basicamente havia permanecido por três meses na cidade para ajudar a campanha de vereador do meu outro irmão de sangue, Sgt Ebenesio. E o encontrei por diversas vezes no batalhão e pudemos conversas sobre várias temáticas inclusive política na caserna.

Gostava muito de conversar com ele, pois tinha uma visão bastante aguçada de mundo e principalmente das mazelas do militarismo. Quem o conheceu na PM-MA, jamais imaginaria que ele teria sido aquele sargentão carrasco no EB. 

Após esses encontros só tive notícia dele pelos noticiários, dando conta da ocorrência que aconteceu no fatídico assassinato de sua cunhada. Ao receber a notícia ficamos chocados com o ocorrido, pois na minha mente jamais imaginaria que isso teria acontecido com o Idelfonso. Sempre foi uma pessoa bastante centrada em suas atitudes, comportamento ilibado e com uma personalidade e caráter digno de qualquer militar de boa conduta. 

Não sei as circunstancias do fato, como dissemos anteriormente não nos reportaremos a esse fato, todavia a sua vida acabou naquele momento. Pouco tempo depois cerca de quase um ano foi preso e ficou a disposição da justiça na prisão do 3º BPM.

Em uma ida nossa ao batalhão fomos visitá-lo, salvo não estou engando isso aconteceu no mês de dezembro de 2013, essa seria a última vez que conversarmos e vimos o nosso irmão.  Tinha a informação que Idelfonso não estava bem de saúde, apresentava problemas psicológicos. A minha primeira impressão quando o avistei depois de alguns anos, foi de um Idelfonso deprimido, aparentemente com problemas psicológicos, as vezes não falava coisa com coisa. Tivemos uma conversa de pelo menos 20 minutos na cela. Não quis entrar em detalhes do acontecido e nem tão pouco indaga-lo o porquê de tal atitude. Apenas perguntamos como estava e se tinha uma assessoria jurídica lhe acompanhando. Disse-me que "não sabia de nada e que não estava nem aí mais para nada". As palavras soariam com bastante preocupação, pois notei que realmente o velho amigo não estava em plena faculdades mentais. O vi sentado, lendo um livro que não me recordo qual era, de boné do exército, cabelos grandes e totalmente barbudo. Sua feição parecia realmente de uma pessoa que não estava bem. As últimas palavras que ouvi de sua boca, foram: "Não precisava de nada, e que deixassem as coisas acontecerem que tudo o que viesse não lhe importaria mais". 

Confesso que sai preocupadíssimo de lá, pois tinha certeza que aquele não era o Idelfonso no qual conhecíamos. 

Ele nutria um grande respeito por mim, sempre me considerou muito. Ao vê-lo daquela maneira e sua vida destruída pelos fortuitos, sabíamos que o amigo teria naquele momento em diante, dias de tribulação durante toda sua vida.

Sua situação estava tão preocupante que a própria justiça o liberou para o cumprimento da prisão no seu domicilio, infelizmente isso o levou a perda de sua vida. Teria sido bem melhor que tivesse permanecido preso, pois sua vida estaria preservada, mais não aconteceu, sua vida foi ceifada covardemente.

Aqui encerramos nossa pequena e singela homenagem ao nosso amigo, irmão e parceiro Idelfonso. Que Deus possa colocá-lo em um bom lugar.

Sgt Ebnilson


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